sábado, 10 de dezembro de 2016

Os Meus, os Seus e os Nossos (Yours, Mine and Ours, 1968)


Uma bela viúva encontra por acaso um homem atraente, também viúvo, e os dois se apaixonam. Até aí nada demais, certo? Tudo seria completamente normal, se não fosse o pequeno detalhe dos dois terem, ao todo, 18 filhos! Estrelada pelos astros Lucille Ball e Henry Fonda, essa comédia-romântica conta a história de Helen North e Frank Beardsley, duas pessoas com um maravilhoso talento para a reprodução que se encontram quase que por obra do destino e decidem juntar suas duas enormes famílias debaixo de um mesmo teto. Obviamente, para eles, a situação não é lá muito agradável no começo, mas em compensação, para nós, os espectadores, a experiência é deliciosamente engraçada do início ao fim.


Você provavelmente já conhece essa história, já que o remake protagonizado por Dennis Quaid e Rene Russo em 2005 é a versão mais popular. No entanto, apesar de não ser tão conhecido nos dias de hoje, o longa de 1968 foi um grande sucesso de bilheteria, surpreendendo até a própria Lucille Ball, que além de atuar foi produtora, através de sua empresa Desilu Productions. Com um pequeno investimento de 2,5 milhões de dólares, o filme arrecadou mais de 17 milhões nas bilheterias, mas ao invés de alegria, causou a ira de Lucy, pois ela acabou perdendo a maior parte do lucro com impostos, já que não esperava tamanho êxito.


Inicialmente, o casal Lucille Ball e Desi Arnaz estaria novamente junto nos papéis principais do longa, em 1959. No entanto, após alguns problemas, incluindo o divórcio dos dois, o projeto acabou sendo adiado. Fred MacMurray, que era o mais cotado para interpretar Frank, foi substituído por Henry Fonda, antigo namorado de Lucy. Eles, que já haviam estrelado A Rua das Ilusões, em 1942, se reaproximaram bastante nos bastidores do filme. Segundo a filha do ator, Jane Fonda, seu pai estava profundamente apaixonado por sua colega de elenco durante as gravações. Não se sabe, porém, se os dois tiveram realmente algo além de uma grande amizade. 


O filme mostra a mãe de oito filhos, Helen North, uma enfermeira viúva que luta para conciliar o trabalho e a vida familiar. Em situação parecida, temos o viúvo Frank Beardsley, pai de dez filhos. Ambos passam por problemas semelhantes, pois se vêem na missão comandar uma família tão numerosa sozinhos, sendo responsáveis pelo sustento e educação de crianças e adolescentes, além da solidão causada pela perda dos cônjuges. Em uma série de coincidências, os dois se encontram por acaso algumas vezes, até que marcam de sair com a ajuda de um amigo em comum. Apesar de render cenas hilariantes, o encontro romântico vai muito bem, até a parte em que eles tomam coragem para revelar o tamanho de sua prole.


Os dois logo percebem que o romance não tem como dar certo por motivos óbvios e acabam terminando a relação que sequer haviam iniciado. Eles até tentam sair com outras pessoas, mas o destino se encarrega de uni-los novamente. Após um curto namoro, temperado pelas travessuras dos filhos, que odeiam a ideia do novo namoro de seus pais, Frank e Helen deciden se casar, tomando a corajosa decisão de colocar 20 pessoas sob um mesmo teto!


Já da pra imaginar o caos que o pobre casal teve que aguentar, não é? Os dois tentam administrar a bagunça da melhor maneira possível, apesar da dificuldade de aceitação dos filhos de ambos com a ideia de um substituto para o lugar de seus pais falecidos. Essa não era a intenção de nenhum dos dois com a união, mas era a maneira como as crianças de sentiam ao se deparar com a nova realidade. Em meio a todo esse pandemônio, é delicioso assistir essas duas famílias diferentes tendo que se adaptar uma à outra, e entendendo que agora formam uma só. Todas as brigas e dificuldades são superadas com muita paciência e generosidade, além de muito amor, não só dos pais por seus filhos e enteados, mas também de um pelo outro.


Neste ponto da leitura, você pode se pegar pensando que o filme tem um bom enredo, porém é um tanto fantasioso. Mas o curioso é que a história foi baseada em fatos reais, descritos no livro autobiográfico 'Who Gets the Drumstick?', escrito pela verdadeira Helen Beardsley. Lucille Ball se apaixonou pela divertida aventura do casal com seus filhos e rapidamente comprou os direitos da obra. A enorme família ganhou certa fama nos Estados Unidos, ao ser retratada no livro e no filme, e costumava dar entrevistas e aparecer em programas de televisão. Algumas partes do longa foram um pouco romantizadas, como a forma que o casal começou a namorar e o excesso de brigas entre os dois lados, já que na vida real as crianças tiveram uma relação mais amigável do que o filme mostra.

A real família Beardsley

Apesar da fama de grande família unida e amorosa, a principal discrepância entre a vida real e a ficção é muito mais difícil de ser retratada em uma comédia. Tanto no livro de Helen quanto nos filmes de 1968 e 2005, a convivência familiar tem suas dificuldades, que chegam a ser cômicas para o público, arrancando risadas e garantindo momentos de diversão. Entretanto, segundo Tom North, um dos filhos de Helen com seu primeiro marido, Frank Beardsley estava longe de ser o homem gentil e companheiro interpretado por Henry Fonda e Dennis Quaid. Em seu livro, intitulado 'True North: The Shocking Truth About 'Yours, Mine and Ours', ele revela que o padrasto era um homem abusivo e violento, que agredia física e emocionalmente seus filhos e enteados, incluindo abusos sexuais. Ainda de acordo com ele, sua mãe sabia de tudo, mas preferia fingir ignorância para não arranhar a imagem de família perfeita perante o público. Ela teria dito certa vez que se casou com Frank para salvar seus enteados e até mesmo tentar salvar a ele próprio. (Leia mais


Apesar da decepção dos fatos reais, que é bastante comum quando pesquisamos mais sobre filmes biográfico e frequentemente descobrimos que os personagens não são tão legais quanto os retratados na tela, Os Meus, os Seus e os Nossos vale a pena ser visto! Uma comédia leve e divertida, bastante engraçada em alguns momentos, além das sempre maravilhosas presenças de Lucille Ball e Henry Fonda, como protagonistas, e de Van Johnson, como amigo do casal. O dvd foi lançado recentemente pela Obras-Primas do Cinema, em uma dose dupla com outro filme da ruiva, Lua de Mel Agitada, de 1953, que você também encontra resenha aqui no blog. Alias, não deixe de ler a matéria sobre a atriz.



2 comentários:

  1. Adoro esse filme, a versão antiga é excelente. Vc sabe se tem disponível na internet, de domínio público? Adorei seu blog.

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    1. Muito obrigada! <3 Olha, em domínio público eu acho difícil.. Se você tiver oportunidade, vale a pena comprar o dvd, que ainda vem com outro filme da Lucy bem legal! Sempre tem promoções numa loja chamada Colecione Clássicos e muitos filmes saem super baratinhos. Não querendo me auto-divulgar, mas já fazendo isso rsrs, eu sempre coloco la na página do facebook quando tem promoções em várias lojas, incluindo essa! =)

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