segunda-feira, 24 de abril de 2017

12 Homens e Uma Sentença (12 Angry Men, 1997)


Você provavelmente deve estar mais familiarizado com a versão clássica, feita em 1957 e estrelada por Henry Fonda, com a direção de Sidney Lumet. Se for do tipo que odeia remakes, deve estar agora torcendo o rosto ao se dar conta de que esta é uma refilmagem, ainda por cima feita para a televisão, exatos 40 anos depois do lançamento do primeiro filme. Mas não se deixe levar pela primeira impressão embasado apenas nos seus preconceitos, pois poderá estar cometendo o mesmo erro que permeia o enredo dessa grande história, que infelizmente permanece mais atual do que nunca nos dias de hoje. 

Cena do filme de 1957

Utilizado para avaliar crimes contra a vida, o juri popular é o responsável por decidir se o réu é culpado ou inocente de uma acusação. Mas quem são essas pessoas e o que elas pensam? O que de fato se passa dentro da sala enquanto os jurados estão deliberando? Na grande maioria dos longas de tribunal, costuma-se trabalhar com as emoções durante o julgamento, na batalha verbal entre o promotor e o advogado de defesa, além dos depoimentos das testemunhas, até que o juiz finalmente declara a decisão dos jurados, sem que eles próprios tenham de fato alguma relevância na trama, não passando de meros figurantes. O grande diferencial deste filme é justamente essa mudança no ângulo de um julgamento e a possibilidade de acompanhar o desenrolar de um veredito. Se nos outros filmes do gênero acompanhamos todo o julgamento e temos apenas a surpresa com a decisão final, aqui temos justamente o contrário. Nosso acesso é apenas ao juri e às informações que eles mesmos nos passam sobre o homicídio e sobre todo o processo. Ficamos centrados apenas na sala onde os 12 homens discutem se devem ou não considerar o suspeito como culpado e assim, sentencia-lo à morte.


O réu é um rapaz latino-americano de 18 anos, julgado por ter matado o próprio pai. Duas testemunhas alegam ter presenciado o jovem na cena do crime. Uma vizinha de frente, que afirma ter visto o assassinato sendo cometido, enquanto o senhor do apartamento de cima diz ter escutado uma ameaça de morte e flagrado a fuga do acusado poucos instantes depois. A decisão parece bastante simples para 11 dos homens que foram designados para o juri, mas não é o que pensa o jurado número 8!


Enquanto todos os outros se mostram entediados e prontamente dispostos a julgar o réu como culpado, o jurado número 8 insiste que a vida de um homem está em risco e que essa decisão deve ser no mínimo debatida, para que não seja cometido nenhum erro. Inicialmente enfrentando os deboches e a raiva de seus colegas, este senhor, que revela ser um arquiteto, vai expondo os detalhes que considera mal explicados no caso e pouco a pouco vai convencendo cada um dos presentes. A juíza havia orientado o juri que o veredito deveria ser dado apenas se todos estivessem certos da culpa do jovem, já que em caso de dúvida um inocente poderia não só ir preso, como também seria executado com uma injeção letal. Essa alias, é uma das mudanças feitas de uma versão para a outra. No filme de 1957, era utilizada a cadeira elétrica como o destino final de um condenado por assassinato, mas nos anos 90 o método já estava em desuso. Cogitou-se também colocar mulheres como juradas, mas por causa do título, a hegemonia masculina continuou.


Se no longa de 1957 temos nomes como Henry Fonda e Lee J. Cobb, na versão de 97 atores do calibre de Jack Lemmon e George C. Scott encabeçam o elenco, que também conta com James Gandolfini, Armin Mueller-Stahl, Ossie Davis, Courtney B. Vance, Tony Danza, Hume Cronyn, Dorian Harewood, Edward James Olmos e William Petersen. É interessante como um filme que tem tudo pra ser extremamente chato, com o roteiro baseado exclusivamente no diálogo, sem nenhum tipo de ação, e passado apenas em um ambiente, consegue atrair verdadeiramente o nosso interesse. No começo, de fato, é um pouco enfadonho, mas com o passar de apenas alguns minutos vamos entrando no clima da história e nos vemos tomando as dores de Jack Lemmon, tão desacreditado e ironizado pelos demais, porém sem em nenhum momento perder a calma e a elegância, além de seu carisma de sempre. Mesmo com um final previsível, me peguei torcendo animada a cada jurado que ia mudando de ideia. Me peguei pensando em como um assunto como esse era atual em 1957, era atual ainda em 1997 e continua sendo até os dias de hoje, diria que mais do que nunca. Quantos homens são julgados e condenados por crimes que não cometeram apenas porque promotores queriam ganhar status ou porque os suspeitos eram negros, imigrantes ou favelados? Quando iremos começar a deixar a nossa humanidade falar mais alto do que nossos preconceitos, assim como o personagem de Lemmon? São perguntas difíceis de serem respondidas que continuam no ar há gerações. Tristemente, constatamos de acordo com o cenário atual, que cada vez menos gente está disposta a fazer tais questionamentos. Cabe a nós usarmos nossa voz e nossa mente para mudar esse futuro fazendo a nossa parte.

Jack Lemmon foi nomeado ao Globo de Ouro por seu desempenho, perdendo para Ving Rhames, que chamou o veterano ao palco para receber o prêmio com ele. Jack declarou que este foi um dos momentos mais doces de sua vida. Confira abaixo:



O dvd do filme está sendo lançado pela Obras-Primas do Cinema e está disponível nas melhores lojas do ramo. Compre aqui

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