Certa vez Julie Andrews declarou 'As vezes sou tão doce que nem mesmo eu posso suportar'. A atriz, que iniciou sua carreira nos palcos, ganhou destaque ao interpretar a vendedora de flores Eliza Doolittle na peça My Fair Lady. Com trabalhos no teatro e na televisão, sendo inclusive indicada ao Emmy por sua atuação como Cinderella em programa transmitido pela CBS em 1957, Julie era moderadamente famosa em 1964, mas não o suficiente para que Jack Warner a escalasse como protagonista da adaptação cinematográfica do musical que a tinha revelado. Sendo uma superprodução, o chefão acreditava que necessitava de uma grande estrela, do calibre de Audrey Hepburn, para atrair o público e angariar uma fortuna em bilheteria. Apesar da decepção, sua estreia nas telas veio no mesmo ano, na versão da Disney para o livro de P.L. Travers, Mary Poppins, papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz. Tornando-se uma queridinha do público, ela conseguiu outro sucesso estrondoso como Maria von Trapp em A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965).
Audrey Hepburn e Julie Andrews no Oscar de 1965
A atriz em A Estrela
Julie encontrou no diretor Blake Edwards um parceiro na vida e na arte. Casaram-se em 1969 e permaneceram juntos até a morte dele em 2010. A prolífera parceria profissional do casal começou com o filme Lili, Minha Adorável Espiã (Darling Lili, 1970), que também acabou sendo um fiasco de público. Tendo se dedicado mais à televisão durante a década de 70, incluindo seu próprio programa, a atriz apareceu em apenas mais dois filmes neste período,A Semente do Tamarindo (The Tamarind Seed, 1974) e Mulher Nota 10 (10, 1979), ambos dirigidos por Edwards. Excetuando-se sua aparição em A Garotinha Que Caiu do Céu (Little Miss Marker, 1980), seus próximos dois trabalhos seriam sua libertação definitiva do rótulo que a perseguiu durante sua carreira.
Blake Edwards e Julie Andrews
Em S.O.B (1981), Blake Edwards decidiu fazer uma sátira da indústria cinematográfica, utilizando suas próprias experiências e fazendo do personagem Felix Farmer (interpretado por Richard Mulligan) uma ironia de si mesmo, assim como Sally Miles seria uma espécie de caricatura de sua esposa e interpretada por ela própria. Em uma das partes mais famosas do longa, Julie aparece mostrando os seios, em sua primeira cena de nudez. O polêmico filme recebeu críticas bem divididas, tendo indicações para prêmios sérios e conceituados, mas por outro lado sendo indicado como pior filme e pior direção no Framboesa de Ouro. No ano seguinte, em Victor ou Victoria?, o casal novamente decide explorar temas polêmicos, dessa vez em um musical, tratando de assuntos como homossexualidade e transexualidade. O longa foi um tremendo sucesso de público e crítica, rendendo a Julie o Globo de Ouro de Melhor Atriz, além de sua terceira indicação ao Oscar, consolidando de vez sua brilhante carreira.
A cena polêmica de S.O.B
Victor ou Victória?
Após pegarem chuva, os dois chegam encharcados ao apartamento do cantor e trocam confidências enquanto esperam as roupas secarem. Todd lhe revela que é homossexual enquanto ela lhe conta fatos sobre seu primeiro casamento. Por se vestir com peças baratas, Victoria acaba tendo problemas com suas roupas, que encolheram após serem molhadas e precisa usar as roupas do novo amigo para voltar para casa. É então que Todd tem a grande ideia de transformar Victoria na grande sensação de Paris, porém de uma maneira pouco convencional. Fingindo ser um conde que se transveste de mulher, ela atrairia uma enorme atenção do público e se tornaria uma estrela dos palcos.
Logo em sua primeira apresentação em uma casa de show, ela encanta a platéia, concretizando as previsões de seu amigo e agora empresário. Um dos mais impressionados com a performance é King Marchand, um gangster machista que está junto com sua amante, Norma Cassady. Inconformado por aquela figura atraente ser um homem e não uma mulher, ele logo se sente impelido a investigar a situação, ao mesmo tempo em que se constrange com sua atração por outro homem. Quando Victoria, agora Victor, começa a corresponder os sentimentos de Marchand, as coisas ameaçam se complicar para os dois, já que se a farsa da artista for descoberta, ela perderá o que conquistou, mas continuar fingindo-se de homem pode arruinar o romance dos dois, pois um caso homossexual seria inadmissível no mundo do crime em que vive seu amado.
Inicialmente o papel de Robert Preston seria de Peter Sellers, ator que fez várias parcerias com Blake Edwards, mas que faleceu em 1980. Embora tenha estreado em 1982, o projeto havia sido iniciado em 1978; Além de ver o filme original, Julie Andrews teve lições de box para as cenas em que sua personagem da socos. Ela revelou também que o diálogo entre Victoria e Marchand, que fala sobre confiarem e nunca mentirem um para o outro, foi inspirado num pacto real feito por ela e seu marido no início do relacionamento dos dois.
O dvd do filme está sendo lançado pela Classicline e pode ser adquirido nas melhores lojas do ramo, além do site da própria distribuidora, que agora possui uma loja virtual.
Grande atriz, grande cantora e dançarina, um ícone musical precioso, Julie Andrews está absoluta nesse espetacular musical, "Vitor ou Vitória?". Excelente matéria!
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