Dizem que dentro de todos nós há o bem e o mal. Mesmo a pessoa mais fria e cruel pode ter algo de bom, assim como o dono do mais bondoso coração pode ser capaz de atos ou pensamentos perversos. Nós, enquanto sociedade, já presenciamos ao longo da história diversos eventos que demonstram todo o sadismo que existe no ser humano. O que dizer, por exemplo, das execuções em praça pública, onde uma multidão se formava para ver pessoas sendo enforcadas, guilhotinadas e até queimadas vivas? Ou sobre as milhares de pessoas que iam assistir como entretenimento gladiadores lutando até a morte? E as famílias africanas sendo trazidas para a América e submetidas aos piores maus-tratos como escravos, trabalhando até a completa exaustão, sujeitos a levarem chibatadas, com mulheres negras sendo estupradas por seus 'donos', mães separadas de filhos e todo o horror que já conhecemos desta época obscura? Talvez hoje em dia nos pareça absurdo, como algo distante, que há muito já foi superado. No entanto, todas essas barbaridades eram executadas, presenciadas e aplaudidas como algo normal e corriqueiro, feitas por pessoas que teoricamente eram boas. Quem poderia dizer que havia algo de errado sendo cometido, já que eram hábitos culturais da época, certo? O que nos faz questionar até que ponto algumas atitudes, muitas vezes realizadas coletivamente, são ou não parte do sadismo e da crueldade que existem em cada um de nós.
Presentes há séculos na cultura popular, os Freak Shows ou Show de Horrores em português, se popularizaram como uma forma de entretenimento para o público, expondo ao ridículo pessoas com algum tipo de deficiência ou anomalia genética. Inicialmente como um passatempo na corte de vários países da Europa, onde pessoas com alguma diferença física eram exibidas para os nobres e até mesmo para o povo, os Freak Shows foram tomando forma e ficando cada vez mais bem-sucedidos, transformando-se em um negócio lucrativo, tendo seu auge por volta de 1840 até a década de 1940. Um dos casos mais famosos, ocorreu ainda no século XXVII, com os irmãos italianos Lazarus Colloredo e Joannes Baptista Colloredo, que viajavam por podo o continente fazendo apresentações. Lazarus era descrito como um homem bonito e educado, porém seu irmão era apenas um ser inanimado que pendia de cabeça para baixo de seu corpo.
Os irmãos Colloredo
Joseph Merrick
Vindo de um grande sucesso comercial com Drácula no ano anterior, o diretor Tod Browning, amigo e parceiro profissional de longa data do ator Lon Chaney, era um grande admirador de histórias de terror e com elementos considerados bizarros. Ao conceber o filme, ele usou como inspiração seu trabalho pregresso em um circo e tamanha era a sua animação com o projeto, que chegou a recusar a oferta de dirigir uma produção que uniria pela primeira vez os irmãos Barrymore, grandes astros na época. Utilizando anões e pessoas reais encontradas em shows de horrores, tais como gêmeas siamesas e deficientes físicos, o filme foi um grande fracasso de bilheteria, sendo proibido em diversos países e tendo que ser cortado em diversas partes, explicando assim a curta duração de 63 minutos que conhecemos.
Estrelado por pessoas com anomalias genéticas e sem alguns membros do corpo, o filme foi considerado pelo público de tremendo mau gosto, repelindo a maioria dos espectadores da época. Uma mulher grávida chegou a ameaçar processar a MGM por ter tido um aborto durante a sessão de cinema. Até mesmo intelectuais, como o escritor F. Scott Fitzgerald, membro do departamento de escrita da MGM nesta altura, chegou a se sentir enojado ao se deparar com as irmãs Hilton durante o almoço no estúdio.
O longa conta a história da bela e interesseira trapezista Cleópatra, o amor platônico de Hans, um anão que é noivo da também pequena Frieda. Embora o despreze, Cleópatra se aproveita do interesse de Hans arrancando-lhe sempre presentes caros, enquanto ri e debocha dele junto com seu amante, Hércules, que faz jus ao apelido, devido à sua força física. Ao saber que seu admirador não só pode lhe dar alguns mimos, como também pode torna-la milionária, já que ele herdou uma grande fortuna, ela logo o convence a casar-se com ela, planejando matá-lo envenenado ainda na lua de mel. No entanto, embora considere os amigos de seu agora marido um bando de aberrações, ela não contava com a sede de vingança que apossa deles ao descobrirem sua real intenção.
Como a vilã Cleópatra, os produtores queriam a atriz Myrna Loy, que entrou basicamente em desespero ao ser designada para o papel, pedindo para não participar da produção. Já como a doce e desiludida Vênus, a intenção era ter Jean Harlow, que também recusou participar do filme. Com isso, Olga Baclanova e Leila Hyams acabaram interpretando as personagens, respectivamente. Henry Victor, Rose Dione e Wallace Ford completam o grupo de atores considerados 'normais' no elenco.
Os 'Monstros'
Considerados aberrações dentro e fora das telas, a ponto de ganharem o repúdio do público, abaixo estarão listados alguns dos artistas com alguma deficiência que participaram do longa:
Harry Earles como Hans e Daisy Earles como Frieda
Daisy e Violet Hilton como as gêmeas siamesas
Peter Robinson como o Homem Esqueleto
Olga Roderick como Mulher Barbada
Freaks está sendo lançado no Brasil pela Obras-Primas do Cinema, em uma edição fantástica, com um documentário sobre o filme, além dos três finais alternativos. Apesar de ser um longa difícil de ser assistido, é um grande tapa na cara do preconceito que nós mesmos muitas vezes temos, e vale a reflexão sobre a forma como muitos seres humanos são tratados com crueldade apenas por serem diferentes. (Clique aqui para comprar)
Bom esse comentário ,irei comprar num futuro
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