segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Atores e atrizes antigos que inspiraram desenhos animados

Já teve a sensação de ver um desenho e achar algum personagem estranhamente conhecido? Ou, quem sabe, assistir a um filme antigo e ter um déjà vu? Calma, se isso já aconteceu com você, tudo será explicado nesta matéria! hahaha Algumas das animações mais famosas da televisão e do cinema usaram a influência dos clássicos e seus astros e estrelas, recriando cenas, trejeitos e/ou características físicas. Confira abaixo os atores e atrizes que serviram de inspiração desenhos animados:

Clark Gable para Pernalonga


Um dos mais famosos personagens da Warner, Pernalonga (Bugs Bunny, no original) fez parte da infância de várias gerações, com seu jeito de malandro e sua esperteza para enganar os rivais, ganhando a preferência do público quase de imediato. Uma de suas marcas registradas, mastigar uma cenoura enquanto fala seu icônico bordão 'O que é que há, velhinho?' (What's Up, Doc?, em inglês), foi inspirada em uma das cenas de 'Aconteceu Naquela Noite' (It Happened One Night, 1934), quando Clark Gable come e fala de boca cheia com Claudette Colbert, com o mesmo ar fleumático e insolente que caracterizam o carismático coelho. O filme é citado como um dos preferidos do animador Friz Freleng, criador das séries de animação Looney Tunes.

Hattie McDaniel para Mammy Two Shoes

Outro desenho que acompanhou gerações, 'Tom & Jerry' apresentava a clássica disputa entre gato e rato, literalmente. A personagem intitulada 'Mammy Two Shoes' aparece em diversos episódios como uma empregada negra da casa onde Tom vive, obrigando-o a caçar Jerry sob a ameaça de expulsão. Baseada na figura da atriz Hattie McDaniel como Mammy em 'E O Vento Levou' (Gone With the Wind, 1939), seu rosto foi visto em poucos episódios, geralmente aparecendo apenas do pescoço para baixo, usando avental ou roupas de dormir. Por conta de sua caracterização estereotipada e muitas vezes pejorativa, a personagem foi substituída da animação após uma campanha da NAACP (em português, Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor), realizada após a exibição de um curta-metragem onde caíam de sua roupa objetos como facas e canivetes.

Charles Boyer para Pepe Le Pew


Embora 'Argélia' (Algiers, 1938) não seja tão conhecido nos dias de hoje, na época de seu lançamento o filme causou um grande impacto no público ao juntar um casal de estrangeiros irresistivelmente atraente em um cenário exótico. O refinamento e a elegância de Charles Boyer como o ladrão de joias Pepe Le Moko contrastava com o estilo extremamente norte-americano de galãs da época como Clark Gable ou Gary Cooper, fazendo com que o ator ficasse estigmatizado: 'Na América, quando você tem sotaque, na mente das pessoas elas associam você a beijar as mãos e ser galante. Acho que isso me prejudicou, assim como me prejudicou ser seguido e atormentado por uma frase que nunca disse' ('Venha comigo para a Casbah', frase mais famosa do longa, que na realidade não fez parte do roteiro). Em 1945, foi criado Pepe Le Pew tendo o ator francês e seu desempenho no longa como base. O personagem criado pelo animador Chuck Jones é um cangambá com sotaque francês e um romântico incurável, que vive perseguindo uma gatinha que tenta escapar de todas as formas por causa de seu cheio desagradável. 

Divine para Ursula


Interpretada pelo ator Harris Glenn Milstead, a drag queen Divine foi personagem de uma série de filmes do diretor John Waters, sendo 'Pink Flamingo' (1972) o mais famoso deles. Ícone da contracultura e do cinema trash, Divine serviu de inspiração para Rob Minkoff, após várias e frustradas tentativas de criar uma vilã para a animação da Disney 'A Pequena Sereia' (The Little Mermaid, 1989). Ursula usa sempre uma maquiagem carregada, com lábios vermelhos, olhos destacados e sobrancelhas exageradamente arqueadas, assim como a musa de Waters costumava aparecer.

WC Fields para Mr. Magoo


O comediante W. C. Fields, que ficou eternizado por seus personagens resmungões e atrapalhados, foi uma das inspirações de John Hubley para criar Mr. Magoo. Além do ator, seu tio, Harry Woodruff, também serviu como influência para a criação do velhinho rico, baixinho e míope, que se mete em situações desastrosas por sua falta de visão e de seu mau humor. Os dois tem em comum também os olhos pequenos e o nariz ligeiramente avantajado, além da predileção por chapéus. Os episódios 'When Magoo Flew' (1954) e 'Magoo's Puddle Jumper' (1956) foram vencedores do Oscar de melhor curta de animação.

Veronica Lake, Rita Hayworth e Lauren Bacall para Jessica Rabbit

Jessica Rabbit surgiu no romance de Gary K. Wolf intitulado 'Who Censored Roger Rabbit?', como a sensual viúva do personagem-título e uma das suspeitas de seu assassinato. O autor se baseou no curta-metragem 'Red Hot Riding Hood' para criar sua mais famosa personagem (veja o curta) na publicação lançada em 1981. Ao ser adaptado para as telas em 1988, como 'Uma Cilada Para Roger Rabbit' (Who Framed Roger Rabbit), onde seres humanos e desenhos animados coexistem em uma atmosfera de filme noir dos anos 40, Jessica ganhou ares muito mais insinuantes. Para chegar à femme fatale perfeita, o ilustrador Richard Williams e o diretor Robert Zemeckis juntaram os cabelos de Veronica Lake a uma mistura de Rita Hayworth com Lauren Bacall para colocar em prática um ideal masculino, ganhando ainda a voz de Kathleen Turner, que dublou a personagem.

Red Skelton para Eufrazino


Um dos grandes adversários do Pernalonga, Eufrazino (no original, Yosemite Sam) é um cowboy ruivo, barbudo e de baixa estatura, que odeia coelhos e está sempre de péssimo humor. O personagem criado pelo animador Friz Freleng surgiu em 1945, inspirado nele próprio, como uma caricatura de sua personalidade, nos curtas de animação 'Dangerous Dan McFoo' e, claro, no comediante Red Skelton em um de seus papéis mais marcantes, o totalmente desqualificado para o cargo xerife Deadeye, uma das esquetes de seu programa 'The Red Skelton Show', que foi ao ar de 1951 até 1971.

Natalie Wood para Penélope Charmosa


O filme 'A Corrida do Século' (The Great Race, 1965) foi a grande inspiração para Joseph Barbera e William Hanna criarem o desenho 'A Corrida Maluca' (Wacky Races, no original), que foi ao ar de 1968 até 1969. Com apenas competidores do sexo masculino, Penélope Charmosa (em inglês, Penelope Pitstop) foi a última personagem da animação a ser produzida. Foi baseada na personagem de Natalie Wood no longa, chamada Maggie DuBois. Embora muito feminina, Maggie é uma mulher a frente de seu tempo, trabalha como jornalista, luta esgrima e não mede esforços para conseguir o que quer. Por mais carismática e encantadora que seja, Penélope foi caracterizada como uma moça que só se preocupa com a aparência e é facilmente enganada, estando constantemente em perigo, chegando a ganhar sua própria série em 1969, 'Os Apuros de Penélope' (The Perils of Penelope Pitstop).

Tony Curtis para Peter Perfeito, e Jack Lemmon para Dick Vigarista


Assim como Natalie Wood, seus colegas de elenco no longa, Tony Curtis e Jack Lemmon e seus personagens, Leslie Gallant e Professor Fate, respectivamente, também serviram de inspiração para o desenho 'A Corrida Maluca'. Peter Pefeito (Peter Perfect) foi baseado no egocêntrico Leslie, o competidor que tinha a si mesmo na mais alta conta e era considerado um super star, atraindo a imprensa e o sexo oposto com seus diversos talentos e sua aparência que beirava a perfeição; Já Dick Vigarista (Dick Dastardly) foi inspirado pelo Professor Fate de Lemmon, que se importava mais em atrapalhar seus adversários com tramoias que sempre davam errado do que em dar seu melhor durante a corrida. Seu fiel escudeiro, Max Meen, interpretado por Peter Falk no filme, transformou-se no cachorro Muttley na animação. Assim como Penelope Charmosa, Dick Vigarista e Muttley ganharam seu próprio dsenho em 1969, intitulado 'Dick Vigarista e sua Esquadrilha Abutre' (Dastardly and Muttley in Their Flying Machines), desta vez inspirado em Terry-Thomas e seu personagem Sir Percy Ware-Armitage em 'Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras' (Those Magnificent Men in Their Flying Machines, 1965). 

Hedy Lamarr e Marge Champion para Branca de Neve


Lançada em 1937, 'Branca de Neve e os Sete Anões' (Snow White and the Seven Dwarfs) foi o primeiro longa de animação da Disney. Para conquistar o público com o novo formato, já que até então apenas curta-metragens animados haviam sido feitos, o estúdio resolveu apostar em características mais realistas para a criação da protagonista. Inspirando-se nos traços quase perfeitos daquela que era considerada a mulher mais bela do mundo, Hedy Lamarr, reproduzindo sua pele extremamente alva, os sedosos cabelos negros e os lábios vermelhos, para criar o aspecto etéreo e inalcançável da princesa; A atriz Marge Champion foi contratada para fazer os movimentos e dança e servir como base para os ilustradores e animadores para aumentar a naturalidade de Branca de Neve e torna-la ainda mais feminina e graciosa nas telas.

Joan Crawford e Helen Gahagan Douglas para a Rainha Má


Embora seu espelho mágico lhe revelasse que Branca de Neve era a mais bela do reino, a Rainha Má (Evil Queen) também deveria ser retratada como uma mulher estonteante. Para contrastar com a beleza delicada e angelical de sua enteada, a rainha possuía um visual com sobrancelhas finas e arqueadas, enormes olhos e lábios extremamente delineados, inspirados em estrelas da década de 30, como Gale Sondergaard, Marlene Dietrich, Greta Garbo e, principalmente, Joan Crawford, que costumavam interpretar personagens dúbias, mundanas e, muitas vezes, cruéis. Já seu icônico figurino foi baseado nass roupas utilizadas por Helen Gahagan no filme 'Ela - A Feiticeira' (She, 1935).

Katharine Hepburn para Belle


A roteirista Linda Woolverton queria que Belle, protagonista da animação 'A Bela e a Fera' (Beauty and the Beast, 1991) fosse diferente das demais princesas da Disney, frágeis, ingênuas e reféns de sua própria beleza. Sua intenção era fazer uma personagem forte, que representasse o feminismo, com inteligência, graciosidade e ideias à frente de seu tempo. Sua principal influência foi a versão de Katharine Hepburn como Jo March em 'As Quatro Irmãs' (Little Women, 1933), com seu espírito aventureiro e seu amor pela leitura. Quanto à aparência, há especulações que diversas atrizes tenham sido utilizadas como inspiração, dentre elas Audrey Hepburn, Vivien Leigh, Natalie Wood, Elizabeth Taylor e Grace Kelly.

Bela Lugosi para Chernabog


'Fantasia' (Fantasy, 1940) é um dos mais ousados e aclamados longas de animação da Disney. Criado para renovar a popularidade do Mickey, o filme possui 8 seguimentos com peças de músicas clássicas. Em 'Night on Bald Mountain', onde um demônio chamado Chernabog evoca espíritos malignos à meia-noite, ninguém menos que Bela Lugosi poderia ter sido a inspiração para a assustadora criatura. O ator, já famoso por sua interpretação do vampiro Drácula, passou o dia fazendo movimentos de referência para dar mais realismo ao personagem, mas o animador Vladimir Tytla acabou não gostando do resultado final e não utilizou as imagens produzidas.

Helen Kane e Betty Boop


Criada por Grim Natwick, que trabalhava para Max Fleischer na Fleischer Studios em 1930, tendo sua primeira aparição em 'Dizzy Dishes', ainda com orelhas de cachorro (que posteriormente se transformaram em brincos) a história sobre a inspiração para Betty Boop por si só já daria um enredo de filme envolvendo artimanhas, blefes e plágios. Com a popularidade da animação crescendo, a atriz e cantora Helen Kane logo notou sua própria semelhança com a personagem, decidindo processar Fleischer e Natwick por utilizarem sua imagem e seu estilo musical sem sua autorização. Kane havia ficado famosa por conta de sua aparência de melindrosa, sua voz estridente e infantilizada e pelo uso de palavras aparentemente sem sentido durante as músicas, que ficou conhecido como 'Boop-Oop-a Doop'. No tribunal, em uma disputa que durou duas semanas, foram apresentadas provas de que Helen Kane na realidade havia copiado o estilo de cantar de Baby Esther, uma artista infantil negra que fez um enorme sucesso durante a década de 20, fazendo turnês nos EUA, na Europa e na América do Sul, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo. Uma gravação de Baby Esther chegou a ser utilizada como prova para desacreditar a versão da atriz, assim como fotos de estrelas da época, como Clara Bow, que demonstravam que o visual de Kane não era único, como ela alegara. O juiz acabou decidindo em favor de Max Fleischer e Grim Natwick por não haver evidencias suficientes para apoiar a reclamação de Kane. Embora tenham sido apresentadas provas substanciais de que a artista de fato havia assistido a uma das performances de Baby Esther e que passou a utilizar sua forma de cantar, anos mais tarde Natwick confirmou que havia usado uma de suas fotografias como inspiração para a criação de Betty Boop.

Bônus:

Mickey Rooney para Archie


Em 1941 o editor John Goldwater lançava a revista em quadrinhos Archie Comics narrando as aventuras do adolescente Archie na pequena cidade Riverdale e seu triângulo amoroso com as amigas Betty e Veronica. A publicação foi criada especificamente com intuito de atrair os ardorosos fãs de Andy Hardy, interpretado por Mickey Rooney, que havia aparecido pela primeira vez de forma despretensiosa no longa 'Uma Questão de Família' (A Family Affair, 1937) e desde então se tornara uma febre, com uma série de 16 filmes, que duraram até 1958.

Edith Head para Edna Moda


Um dos grandes destaques do longa Os Incríveis (The Incredibles, 2004) e de sua sequência, lançada em 2018, foi a excêntrica e diminuta estilista Edna Moda (Edna mode). Os óculos redondos e o cabelo chanel de franja não negam a semelhança com Edith Head, uma das grandes figurinistas da era de ouro de Hollywood, com impressionantes 445 créditos no cinema, com clássicos do gabarito de 'A Malvada' (All About Eve, 1950), 'A Princesa e o Plebeu' (Roman Holiday, 1953) e 'Ladrão de Casaca' (To Catch a Thief, 1955). Acredita-se que outras influências para sua criação foram a temida editora-chefe da Vogue Anna Wintour e a atriz Linda Hunt.


6 comentários:

  1. Matéria maravilhosa e precisa! Pesquisa e textos perfeitos mostrando como o cinema em live action e animação sempre estiveram entrelaçados. Parabéns Thaís,linda Lady Hollywood!!!

    ResponderExcluir
  2. Nossa que legal! Não sabia nenhum deles!

    ResponderExcluir
  3. Muito obrigada! Eu sempre achei o Cássio Gabus Mendes a cara do relégio! hahahaha

    ResponderExcluir
  4. Penelope podia ser ingênua, mas era sempre ela própria que se salvava do Tião Gavião, porque a quadrilha de morte sempre se atrapalhava!

    ResponderExcluir