Com gerações de atores, a família Barrymore já era lendária antes mesmo da criação do cinema, estabelecendo grande reconhecimento no teatro. O primeiro clã de Hollywood, os irmãos Lionel, Ethel e John Barrymore não fugiram à tradição dos palcos e se aventuraram nos filmes ainda na era silenciosa. O caçula dentre os três, John tornou-se um renomado intérprete de Shakespeare, atuando em peças como 'Richard III' (1920) e 'Hamlet' (1922). Nas telas, protagonizou 'O Médico e o Monstro' (Dr. Jekyll e Mr. Hyde, 1920), 'Sherlock Holmes' (1922) e 'Don Juan' (1926), recebendo a alcunha de 'O Grande Perfil'. Com a chegada do som, sua carreira continuou sólida, graças ao seu treinamento vocal para o teatro, que despertou interesse dos estúdios. 'Grande Hotel' (Grand Hotel, 1932), 'Jantar às Oito' (Dinner at Eight, 1933) e 'Suprema Conquista' (Twentieth Century, 1934) foram alguns de seus trabalhos mais notórios.
Sua carreira começou a declinar devido ao uso cada vez mais excessivo de álcool. Após esquecer suas falas e desmaiar nos sets de filmagem, o ator acabou sendo internado em uma clínica especializada para tentar se recuperar. Endividado, voltou a trabalhar em papéis secundários, muitas vezes com a ajuda de cartazes para lhe ajudar com o roteiro. No entanto, o alcoolismo e a vida boêmia continuavam fazendo parte de sua rotina. Enquanto gravava um episódio de seu programa de rádio, Barrymore desmaiou e foi levado ao Hospital Presbiteriano de Hollywood, onde morreu em 29 de maio de 1942, de cirrose hepática e insuficiência renal, complicada por pneumonia.
John Barrymore e Errol Flynn. No longa 'Too Much, Too Soon' (1958), baseado na autobiografia de Diana Barrymore, Flynn interpreta seu amigo de longa data
Durante seus anos de alcoolismo, Barrymore fundou o 'Bundy Drive Boys', um 'clube do Bolinha', precursor do infame 'The Rat Pack'. Faziam parte do grupo nomes como os atores Errol Flynn, Roland Young, Thomas Mitchell e W.C. Fields, o pintor John Decker, o diretor Raoul Walsh, o crítico e poeta Sadakichi Hartmann e o jornalista Gene Fowler. Anthony Quinn, ainda em começo de carreira, era uma espécie de mascote, que tinha o mesmo tipo sanguíneo de Barrymore e Decker e muitas vezes lhes doava sangue quando estes eram hospitalizados.
Em sua autobiografia 'My Wicked, Wicked Ways' (1959), Errol Flynn conta como Raoul Walsh e alguns amigos conseguiram subornar os funcionários do necrotério e roubar por algumas horas o corpo de Barrymore para pregar-lhe uma peça. Segundo ele, os amigos levaram Barrymore até sua casa e o acomodaram em sua cadeira favorita. Quando o ator chegou em casa e se deparou com a cena, soltou um grito delirante e foi correndo até a varanda, onde foi interceptado pelos amigos, que contaram o que haviam feito. Alguns anos depois, Walsh contou uma versão parecida da história, revelando que contou com a ajuda do mordomo de Flynn para a empreitada. Recentemente, em uma entrevista em 2020, a neta do ator, Drew Barrymore, confirmou a história, revelando que os amigos levaram seu avô para uma última noitada. No entanto, Gene Fowler e seu filho Will afirmaram terem ficado de vigília durante toda a noite, sendo impossível o infame último passeio de Barrymore relatado por Flynn.
Uma das lendas urbanas de Hollywood ou não, o fato é que a história serviu de inspiração para uma das cenas do longa de Blake Edwards 'S.O.B. Nos Bastidores de Hollywood' (S.O.B., 1981). Há quem dia, ainda que sem confirmação, que 'Um Morto Muito Louco' (Weekend at Bernie's, 1989) também foi baseado na aventura de Flynn e companhia.
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